sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sessão terror '' O Açougueiro''

“O velho homem cortava os inúmeros pedaços de carne com a espátula. O sangue espirrava á todos os lados. As moscas sobrevoavam as carcaças que estavam em cima da pia, cujo cheiro era insuportável.
                Essa pessoa havia se mudado há duas semanas, substituindo o antigo açougueiro do bairro. Suas carnes eram um tanto estranhas. Eu desconfiava que não fossem de boi, de vaca, ou de frango, nem tampouco suína. As pessoas também desconfiavam, mas, por algum motivo, nunca reclamavam – por certo, não deveria ser tão ruim assim -. Somente eu sabia que tipo de carne eram aquelas, pois fora seqüestrado.
                Eu, aparentemente, não era a primeira vítima, pois estava acompanhando o sofrimento e a dor de Mary – minha vizinha – que estava sendo dilacerada com uma serra por seu Zé – o maldito açougueiro -. Ele tinha uma aparência um tanto assustadora: Um rosto muito enrugado, olhos extremamente negros, pele clara e era careca. Ele certamente se assemelhava a um psicopata de filmes de terror. Porém, esse era real.
                Neste momento, minha família deve estar me procurando sem ter, ao menos, a idéia de onde estou. Pobre das pessoas que vêem comprar carne nesse lugar. Mal elas sabem o que estão comendo. Fico deduzindo: “Daqui a pouco, o bairro todo estará comendo a minha carne”. Será que ninguém desconfia do estranho sabor que elas possuem? Será que a carne humana é realmente saborosa?
                Isso eu jamais saberei, pois meu fim está próximo. É por isso que eu, Valdir Luciano, estou escrevendo este bilhete para que, um dia, as pessoas o encontrem e façam justiça, prendendo esse maníaco psicopata. Eu espero, rezo e torço para que ninguém mais passe o que eu estou passando. Neste momento, minha vizinha já está morta e suas tripas já estão no frigorífico, expostos para as pessoas comprarem.
                Ele está vindo: É a minha vez.
                Ele irá me desamarrar me colocar em cima da pia e começar o “abate”.
                Tomara que encontrem esse papel e dêem-se conta do que estão comendo, cada vez que comprarem neste maldito açougue”.
               

O açougueiro desamarrou Valdir e o levou à pia. Com uma marreta, ele começou a bater brutamente em sua cabeça, como se o garoto fosse um animal. O crânio se abriu. O sangue escorreu, misturando-se ao pus, até que pingasse ao chão.
                Era mais uma vítima do diabólico açougueiro.
                De repente, seu Zé ouviu vozes que o chamava lá fora: Uma clientela. O homem, rapidamente, se limpou e deixou o corpo de Valdir estendido em cima da mesa e, antes que saísse, encontrou o bilhete do garoto. Ele nem ao menos fizera questão de lê-lo e o jogou na rua.
                - Boa tarde senhora. O que vai querer hoje? – Perguntou ele, surgindo no balcão, esfregando suas mãos sujas de sangue e pus no avental branco.
                - Bem, eu vou querer um quilo de fígado de boi – Respondeu Jennifer, uma moradora do bairro e que sempre comprava carnes naquele açougue, desde o antigo morador do comércio.
                O homem, então, pegou uma porção de fígado – que certamente não era de boi – e os colocou em um saco plástico.
                - Prontinho senhora – disse ele.
                - Obrigado – agradeceu a mulher que, ao sair do açougue, pisara no papel de Valdir, grudando em seu sapato.
                Chegando a sua casa, Jennifer foi á cozinha e começou a temperar a carne para fritá-la, sem ter idéia do que era aquilo.
                Horas depois, ela e sua filha, Jéssica, estavam jantando. A mulher saboreava o fígado que havia comprado, enquanto sua filha enojava o mesmo, pois a carne fedia a pura carniça.
                - Filha, come logo essa comida! – exclamou Jennifer.
                - Não! – retrucou – Essa coisa fede muito! Não sei como você agüenta!
                De repente, Jennifer percebera algo em seu sapato: Um bilhete. Ela o retirou e observou.
                Ao ler metade do que estava escrito, o pavor tomou conta de sua expressão e a mulher começara a vomitar convulsivamente, a ponto de desmaiar, caindo ao chão.
                Jéssica, desesperada, tentou acordá-la, mas não conseguia: Sua mãe estava em estado de choque.
                Ela olha para o bilhete e tentava imaginar o que estaria escrito ali para sua mãe ter desmaiado. Ao pegá-lo e lê-lo, a garota olhou para o prato, observou aquela carne totalmente escura e grotesca, tendo a mesma reação decadente de sua mãe.
                Vômitos, gritos e olhos esbugalhados: A garota estava traumatizada.
                Naquele mesmo instante, ela ouvira uma série de batidas muito fortes, como se estivessem martelando algo, e o barulho vinha da rua. Gritos e berros também podiam ser ouvidos.
                Puxando lentamente, e disfarçadamente, a cortina de sua janela a menina observa a rua. Estava tudo escuro, menos uma casa: A do açougueiro.
                De sua janela, Jéssica podia ver reflexos de luzes da casa de seu Zé e, da janela dele, uma sombra batia fortemente contra algo que estivesse numa mesa, ou balcão. A mão que fazia o ato parecia estar segurando um martelo – ou marreta -. Os olhos da garota não piscavam e seu corpo começara a tremer.
                De repente, uma batida ainda mais forte daquela sombra: Um líquido espirrou sobre a janela do açougueiro. Jéssica tentava não acreditar no que poderia ser aquilo, mas seu medo foi maior e, em um ato de pavor, ela acaba gritando. As marteladas pararam, seu Zé abriu a janela e olhou diretamente para Jéssica que, desesperada, fechou rapidamente a cortina.
                Aos choros e soluços, ela pegara  um telefone e começara a discar um número: Jéssica estava ligando para a polícia.
                No dia seguinte a polícia fora á casa do açougueiro, após a denúncia da garota e sua mãe, que continuavam chocadas com tudo aquilo. Porém, era tarde demais.
                Seu Zé havia ido embora, mudando-se para outro lugar onde ninguém pudesse suspeitar de seu maléfico comércio.
                Tome cuidado. Ele pode estar se mudando para o seu bairro. Observe bem quais tipos de carne você está comendo, e onde você está comprando. Você poderá estar comendo a carne de um amigo seu, ou de um familiar. Ou alguém poderá comer a sua carne, se você se deparar com:
                O Açougueiro.

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