Eu não me importo com o seu relógio com os ponteiros sempre atrasados.
Não me importo com os bares e lugares que você escolhe. Eu já não te
espero, nem te acompanho. Não me importo com as vírgulas mal empregadas e
as frases que você não sabe formular. Não aguardo nenhuma mensagem,
nenhuma carta num corpo de e-mail. Não me importo se o telefone não
toca, se nenhum alerta pisca. Não espero resposta. E para mim não faz
diferença se você se importa, não há nada de novo nisso.
Eu, que
sempre me incomodei com cada detalhe, encontro-me agora em estado de
indiferença. Velho amor é passado, mas é sempre amor, apesar de mudar a
forma e agregar a ele outros sentimentos. Mas isso não tem nada a ver
com o que eu penso a seu respeito, aliás, quase não penso. Ignoro cada
gesto, cada encontro casual, cada bom-dia com sorrisos amarelos –
atitude de dois estranhos familiares. Finjo não ver, porque é melhor
que sorrir.
Era minha melhor amiga, mas hoje somos bons
desconhecidos. Dois adultos que não sabem viver sem se esbarrar, sem
desviar os olhares. Que conversam no silêncio, na distância, na mudança
de vida, na troca de amores. Somos apenas duas crianças que não
aprenderam que para seguir em frente, com quem quer que seja, é preciso
perdoar. Não se pode ser apenas um quando os nós não foram desatados.
Mesmo que nada mais de nós realmente importe, é preciso saber olhar nos
olhos e dizer tchau, para que finalmente possamos dizer olá, sem medo.
Eu
não me importo com nada em você, com nenhuma mania. Não te quero
comigo, nem espero que você me dê a mão. Desejo apenas que um dia
possamos agir sem culpa, que saibamos, pelo menos, não desviar os olhos.
Em algum momento, eu sei que finalmente aprenderemos a amar de novo,
depois de encarar os anos que não vivemos, apenas remoendo, levando
todas as angústias e frustrações do nosso amor antigo para nossos novos
amores. E antes de pedirmos perdão a quem quer que seja, que perdoemos a
nós mesmos por invalidar qualquer possibilidade de fazer feliz outra
pessoa. Por culparmos os outros pelos nossos próprios erros.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir