sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Medo da Vida




A estrutura emocional oscilou, os passos largos pelas ruas diminuíram. As olheiras são consequência de pensamentos invasivos, de madrugadas que seguem o mesmo roteiro diariamente, sem pular linha e nem acrescentar parágrafos. As palavras que escrevo saem da respiração que não quis sair do pulmão, das palavras que as cordas vocais não conseguem liberar, da lágrima que ficou trancada nos olhos opacos. O sussurro que vem da alma é a esperança que morreu lentamente, é o fogo que queimou o amor puro, é a água que não consegue mais lavar a sujeira que se criou ao redor do peito aberto. É a ferida que cicatriza, mas que marca para sempre.Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir. Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons. Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar. Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda. Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho. Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento. Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho. Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social. Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes. Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho. Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim. Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado. Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo.
O problema é conviver com o depois. Como será depois? Sei que eu penso demais, minha cabeça dá voltas, imaginação fica a cem por hora. Mas queria saber como será depois. Mesmo. Como vou viver depois que, finalmente, te colocar num lugar distante? Como vou me sentir depois que eu tiver que forçar a memória pra me lembrar dos nossos beijos, nossas brigas, nossas conversas? Eu não sei. Simplesmente não sei. O que machuca é saber que esse dia chegará. E o que me dói é saber que eu nunca mais serei o mesmo

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