segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nunca mecham no livro

ra uma noite fria e sem estrelas, a lua estava oculta pelas nuvens e um vento gélido mantinha todos presos em suas casas. Dois garotos adentravam o cemitério da cidade, eles discutiam alguma coisa e pareciam ansiosos e preocupados.
   —Estou dizendo, isso não vai dar certo, e mesmo que consiga o que vamos fazer com ele depois? - Paulo fitou seu amigo.
   —Não sei, mas se isso da vida aos mortos eu quero saber - Lucas fitou o estranho livro em suas mãos.
   —É ali - Paulo apontou para uma lápide não muito longe.
   Suas roupas perderam as cores e eles se transformaram em dois vultos que corriam pela escuridão. Eles pararam subitamente e Lucas começou a folhear o livro de couro e letras douradas.
   —Seu avô está enterrado aqui, este livro é dele, se ele não gostar de te ver com o livro dele sabe-se lá o que ele pode fazer - Paulo teve um terrível pressentimento, mas preferiu deixar Lucas continuar com suas ideias.
   Lucas não deu atenção a seu amigo e começou a ler palavras esquisitas, quase que soletrando. Quando disse as ultimas palavras fechou o livro e um trovão ecoou pelas nuvens.
   —Não aconteceu nada, vamos embora - Paulo girou os tornozelos para ir embora, mas Lucas notou alguma coisa.
   —Espere, ouviu isso?
   —O que? - Paulo franziu a testa.
   A grama abaixo dos pés dos garotos começou a vibrar, e com uma fúria indescritível uma mão brotou das entranhas da terra e agarrou a perna de Lucas. Seu amigo o libertou com chutes e ambos correram para a saída do cemitério, mas quando chegaram lá ficaram surpresos, o portão sumira e em seu lugar havia apenas um alto muro de tijolos.
   —Onde está a saída? - os olhos de Lucas percorreram toda a extensão do muro, mas não encontraram nada.
   —Lucas... o seu avô está atrás de nós... - Paulo gaguejou ao ver a sombra que se aproximava.
   —Ele deve estar querendo o livro, jogue! - gritou Paulo.
   O avô de Lucas se arrastava pelas sombras e seu neto jogou o livro a seus pés, mas ele não pegou o livro e passou direto. Ele se aproximou e seus ossos quebrados, pele rasgada e cheiro podre ficaram cada vez mais aparentes.
   —Por que... me trouxeram de volta... - a voz rouca do zumbi ecoou por todos os lados. - Vocês não deviam ter tocado no livro... Vão pagar por isso...
   O zumbi começou a repetir as mesmas palavras esquisitas que Lucas pronunciara antes e outro trovão ecoou pelas nuvens. O solo de todo cemitério começou a vibrar e varias mãos brotaram do chão e se prenderam aos garotos.
   —Lucas! Faça alguma coisa! - Paulo pedia ajuda a seu amigo ao mesmo tempo em que observava centenas de zumbis brotarem do chão e virem ao seu encontro.
   —Eu não sei o que fazer! Estamos presos! - Lucas se debatia para libertar-se das mãos que o prendiam, mas era um esforço em vão.
   Os zumbis puxaram os garotos e eles caíram, barulho de ossos se quebrando e gritos de dor suplicando por ajuda ecoaram pelo cemitério. Mas ninguém ouviu os gritos e eles foram devorados vivos, o zumbi avô de Lucas assistiu a tudo e se virou para fitar o livro que o trouxe de volta ao mundo dos vivos, do monstro de rosto desfigurado se fez ouvir uma frase:
   —Nunca mexam no livro...

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