segunda-feira, 10 de junho de 2013

O Cemitério dos condenados ( Segunda Parte)

O cadáver de Maria era o espetáculo do dia. Suas amigas aos prantos lamentavam sua partida prematura. A morte espontânea e sem explicação da jovem moça de vinte e cinco anos as intrigavam, e juntas oraram pela alma da pobre infeliz. Lucios e Dora observaram os demônios carregarem a alma da debochada. 

Continuaram com seu caminhar, deixando para trás aquela multidão. Dora antes de partir olhou diretamente nos olhos do espírito de sua vítima. A alma de Maria bradava em extrema dor, o fogo do inferno a cobria enquanto os demônios riam de sua desgraça. Dora percebeu que um mundo pior que o cemitério onde vivia realmente existia. E lá as almas impuras sofriam atrocidades, pagando por todos os seus pecados. E após a morte, apenas dois caminhos existiam para os humanos, o céu e o inferno. Já para os condenados como ela e Lucios, caminhos distintos eram oferecidos em troca de anos de trabalho sujo e pagamento de penitências.

A noite caiu assombrosa e a lua cheia cobria o céu, junto a uma névoa densa e negra. No necrotério o corpo de Maria passava pela autopsia. Após algumas horas, lhe foi constatada morte por asfixia. Ninguém conseguia entender como aquilo era possível, o legista relatou uma hipótese de súbita loucura, fazendo a mesma se sufocar e cometer o suicídio. O homem arrastou a maca e depositou o cadáver na gaveta. Sua família aguardava o amanhecer para velar o corpo. O padre Maldonado esperava lá fora, era amigo da família e mais tarde faria uma oração pelo espírito da pobre mulher.

– Bom, padre – Disse o legista – O senhor poderá visitar o corpo à meia noite.

O padre sorriu e lhe cumprimentou. Ainda hoje faria com sua obrigação. A família agradeceu o bom sacerdote por sua atenção e juntos foram embora. Maldonado permaneceu no local, aguardava ansioso o ponteiro do relógio bater às 12 horas...
 
 
Naquela mesma noite em uma velha cabana dentro de uma floresta suja e amaldiçoada, estavam eles. Lucios sentiu a maldade dominar Dora, e viu que seu plano daria certo, naquele momento teve a certeza que era ela à “escolhida”. 
– Servimos a eles, e neles seremos libertos um dia Dora – Tomou uma taça de vinho e continuou – Você será minha aprendiz e sua primeira tarefa será dada – Puxou um velho livro negro e decretou – Aquela a quem você assassinou estava condenada, e seu corpo preencherá o vazio de nosso cemitério. Apenas por isso lhe dei o direito de matá-la. E Lembre-se... Apenas aqueles que merecem morrer serão levados. Aprenda a se controlar e será de grande ajuda – Colocou a taça na mesa e a ordenou – Você levará o corpo da desgraçada esta noite, terá também uma surpresa, mas saberá o que fazer, por enquanto é só isso mulher.
 
E Dora saiu satisfeita pelo voto de confiança, faria como o planejado e provaria que era capaz. Passou o dedo na boca de Lucios e o beijou na face, caminhou até a porta e girou a maçaneta. Lucios sorrio bestificado sabendo que ela sentira algo por ele, e o mesmo também regia um certo carinho por ela. 
 
Era quase meia-noite e Dora acelerava os passos indo de encontro ao necrotério. Ansiosa ela quase não se continha, desejava muito agradar Lucios, o provaria sua lealdade e assim se aproximaria ainda mais de sua paixão. Apesar de tão pouco tempo, ele despertava um sentimento jamais conhecido por ela. E isto lhe agradava muito, tudo era novo e gostoso. Dora sabia que isso fora lhe proporcionado através de Lucios, que a libertou daquele mundo tenebroso e sem graça.
 
O ponteiro do relógio bateu às 12 horas 
 
O legista chamou o padre até a sala e se despediu.
– Bom, padre; Meu horário já deu, quando terminar apenas peça para o vigia fechar a porta. Até mais. 

– Até mais meu filho – Respondeu o padre – E que Deus te abençoe. 

O padre mais que ligeiro adentrou na sala, fechou a porta e caminhou até a gaveta onde estava o cadáver da moça. Retirou a maca para fora expondo à defunta. Maria era uma mulher vistosa e muito bonita, quando em vida uma mulher muito desejada... E morta também. Maldonado colocou a bíblia e seu manto na mesa e se aproximou do corpo.

 
 – Pobre menina... Que desperdício – Sussurrou enquanto suas mãos percorriam o corpo frio de Maria – Ao menos saciará minha sede – Gargalhou após retirar o lençol que a cobria. 

Logo o padre tarado retirou a batina e ficou completamente nu. Subiu na maca e a violou, entregue ao êxtase e a loucura. Saciava-se insanamente, sedento por seu prazer macabro. Lembrou-se das inúmeras vezes que já praticou tais atos. 

Abençoada pelo dom desgraça, Dora se aproximava cada vez mais de seu objetivo. Observou o vigia na entrada do necrotério e sem mais demandas estalou os dedos, levando o mesmo a cair em um profundo sono que tardaria para acabar. A nefasta adentrou nas instalações do local e caminhou o longo corredor até a sala onde se encontrava o corpo da “debochada”.
 
No outro lado da cidade, Lucios foi fazer uma visita para mais uma alma condenada pelo pecado. O demônio pisou na grama macia do quintal e observou da janela Estela passar a roupa limpa. Estela é uma prostituta cruel e sem pudor, além de vender o corpo em troca de dinheiro sujo, ela também já matou alguns de seus clientes. É mãe de um filho de oito anos de idade, do qual odeia, pois não desejava ser mãe, ainda mais de um pai que nem mesmo ela conhece.

Gabriel é constantemente maltratado e espancado por sua mãe. O garoto presencia diariamente ela se drogar e até realizar programas em sua frente. Pobre do pequeno... Seu corpo é totalmente marcado por cicatrizes, frutos das surras que sofrera por ela. Certa vez dominada pelo ódio, Estela chegou em casa e viu o filho fazendo pirraça, sem remorso deu a última tragada no cigarro e lhe queimou o olho esquerdo, a dor foi extrema e sem chances de reagir, o podre Gabriel teve apenas que se acostumar a viver com a visão debilitada e marcada pela violência. Uma marca que mesmo se ele quisesse... Jamais iria esquecer.


 
E na sala de autópsia o podre abominável possuía doentiamente o cadáver de Maria. Dora em extrema ira arrombou a porta. O coração de Maldonado disparou, e assustado  o sacerdote caiu no chão frio, totalmente nu. Olhou estagnado a meticulosa lhe encarar a face. Dora parou por alguns segundos e gargalhou alto debochando do padre.
 – Com uma ferramenta tão minuscula dessas, aposto que ela não deixaria você ficar um minuto se quer por cima  – Riu ainda mais alto e o alertou  – Só não o matarei agora pois não tenho esse direito... O que é seu está guardado!
 
Suando da cabeça aos pés o maldito implorou ajoelhado.
– Por favor minha filha... – Antes de terminar com seu discurso, Dora o interrompeu – Cale-se já!
 
Maldonado pode ver os olhos da insana queimar como duas tochas ardentes. No mesmo instante o desgraçado padre sentiu uma dor atordoante lhe devorar à alma. Suas mãos se desintegraram como areia na peneira, seus gritos foram cortados assim como sua língua. E seu sexo caiu ao chão como se fosse carne podre. Sem poder dizer, escrever ou relatar nada, o padre apenas pode ver e ouvir às palavras  humilhantes ditas por Dora.
– Você é mais fétido do que chorume! – Se aproximou do covarde e decretou – Vá embora e aproveite bem sua vida suja! 
 
Tremulo ele apenas acatou às ordens de sua algoz. Agarrou seu manto como pode e correu disparado para fora do local, tropeçou varias vezes até alcançar a saída.
 
Na casa da prostituta; Estela continuava passando suas roupas, enquanto Gabriel via televisão. Ao virar o rosto tomou um grande susto, deixando o ferro quente cair em seu pé. Gritou entregue a dor da carne e praguejou chorosa contra o demônio invasor. 
– Maldito filho da puta! – Gemeu de dor retirando o ferro de seu pé – Quem é você pra entrar assim na minha casa! Eu vou te matar!
 
A risada da criatura lhe assustou. Gabriel deixou a televisão de lado e prestou atenção na cena. Lucios fechou suas mãos aprisionando o corpo de Estela. Inerte ela apenas pode ver o demônio agarrar um pedaço de fio e começar à chicoteá-la. A dor era inexplicável e as primeiras gotas de sangue começaram a brotar de seu corpo. A criança aplaudia o show de horrores, afinal Gabriel a odiava. Lembrou-se das inúmeras surras que levou com o mesmo fio de cobre, e agora torcia pelo sofrimento de sua algoz. 
 
Após alguns minutos de sofrimento, Lucios parou com sua agressividade. O corpo de Estela estava banhado em sangue, ele então abriu suas mãos libertando-a. Mesmo podendo se movimentar, que forças encontraria? Ela estava totalmente debilitada pelas chicotadas, a ponto de desmaiar. Lucios então observou aquele corpo estirado no chão e lhe condenou com tais palavras.
– Hoje tu será levada deste mundo e tua alma sofrerá castigos ainda piores! – Caminhou até a criança e lhe entregou uma faca – Mas não será por minhas mãos que tu morrerá – Vá criança... Sei que deseja isso.
 
O menino sorrio diante a proposta e caminhou estampado por um sorriso doentio entre os lábios. 
 
– Nãooo, não faça isso meu filho! – Sussurrou a prostituta suplicando ao próprio filho por sua vida  – Por favor... Nãooo! Eu te amo Gabriel!
 
A criança ignorou o pedido da mãe e avançou com sede de vingança. A primeira facada foi no braço, e Estela gritou desvairada de dor. O segundo golpe lhe retalhou o abdômen, fazendo as tripas escorregarem ao chão. O sangue escorria denso, logo inúmeros golpes destrinchavam a prostituta. O garoto não conseguia parar de golpeá-la. Molhado de sangue só parou quando Lucios lhe segurou pelos braços e o tirou de cima do cadáver. 
A criatura olhou com satisfação o trabalho de Gabriel, e visualmente alegre o agradeceu.
 Você não fez nada de errado menino  Pegou a faca das mãos da criança e continuou – Não sejas sujo como sua mãe, busque ser algo melhor que isso. 
 
Gabriel permaneceu calado e apenas presenciou o corpo de sua mãe ser carregado. Antes de ir, Lucios entrou em sintonia com Dora, e logo depois desapareceu coberto por uma névoa negra. 
 
No necrotério Dora viu uma passagem se abrir. Arrastou o cadáver de Maria pelos braços e adentrou no portal. Do outro lado encontrou Lucios, e juntos comemoraram seu primeiro sepulcro. O cenário de horror naquele mundo paralelo era ideal. Dora arremessou os dois corpos em um buraco a céu aberto, Lucios apenas admirou sua doce pupila em ação. Singelamente ele a agarrou pelos braços e desapareceu com ela daquele inferno.
 
Na velha cabana os dois aproveitavam o bom vinho, uma musica clássica dava o clima desejado. Lucios encheu a taça de sua amada e lhe roubou um beijo, suas mãos percorreram rapidamente a pele macia de Dora. E ela estava adorando tudo aquilo, lhe retribuiu tirando a parte de cima do vestido, e quando Lucios ousou tocá-la um som de gemidos lhe roubou a atenção. Em estado de ira, ele caminhou até a porta e se preparou para ver o que estava acontecendo, logo atrás Dora instintivamente o seguia.
 
CONTINUA...

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