sábado, 21 de dezembro de 2013

O equilibrista e o amor

O equilibrista rasgou suas calças de seda colorida ao subir no muro alto. Olhou as ruas vazias e cantou esganado sobre o amor. Segurava um buque de flores recém-colhidas, totalmente confiante naquilo tudo que declamava... Sua voz rouca e sincera ecoou pelas ruas curtas, chegando até as casas simples e toscas. Os moradores boquiabertos saíram de seus lares para acompanharem o tolo homem cantar um sentimento tão profundo, que para desgraça do destino, eles tão pouco conheciam:
 — É só o amor que conhece o que é verdade! O amor é bom, não quer o mal, não sente inveja e nem se envaidece...
 A moça de vestido azul lhe sorriu contente, e ele enfim pode entender o significado das palavras que tão bem dizia. Apertou o buque nas mãos, á encarou com os olhos cheios de amor, de esperança e de alegria, desceu do muro alto, caminhou até ela em meio à multidão fascinada com seus dizeres, e fez uma doce declaração à moça de azul, declaração esta, inspirada no amor a primeira vista:
 — Amor meu, moça bela de azul... Eu que acreditava apenas nas mentiras que me contavam, pude agora entender o verdadeiro significado... Olhando em seus olhos e sendo presenteado com seu doce sorriso, pude compreender o que realmente é o amor... Não sou mais um tolo, moça de azul, seus olhos não mentem pra mim! Não sou mais um tolo, pois agora vago neles, eles me presentearam com seu sorriso – lhe estendeu o buque de flores bonitas e continuou a dizer – Lhe trago estas flores, pois á partir de hoje, quero enfeitar todos os seus dias!
 O povo aplaudiu quando a moça de vestido azul pegou o buque. Ela, que nunca havia sido amada por ninguém, aceitou a proposta do romântico equilibrista.
 Todos os dias antes de subir ao trapézio, enfeitava o equilibrista os dias da moça de azul, conforme o prometido. Ela em orgulho extremo andava florida pelas ruas, enquanto todos a aplaudiam por tão bem querer. Os rapazes a olhavam fascinados e apaixonados, a cortejando e lhe dando toda a essência da luxuria. Ela passou a ser o centro das atenções na cidade miúda. O equilibrista ainda não contente, mandou que pintassem todas as casas por onde a moça passava, para que sua beleza atingisse á tudo em sua volta. E a cidade colorida passou a ser mais feliz, tendo como rei o equilibrista e como rainha a moça de azul.

 Em um dia triste, o equilibrista despencou de suas cordas bambas... Caiu inerte no chão do circo, em meio ao lotado espetáculo. Se calou em uma cama, sem poder se mover, sem poder andar e gritar sobre o amor.
 As pessoas vinham lhe visitar e lamentavam sua sorte, ele chorou quando viu sua amada de azul, que o olhou triste e saiu sem dizer uma única palavra de esperança.
 Logo o tempo lhe condenou, as visitas diminuíam a cada dia, e ele foi abandonado, esquecido por todos... Agonizava o tolo equilibrista em sua cama pequena, com o nobre coração doendo mais do que o próprio corpo, gritando pelo amor traído.
 A moça deixou tudo para trás, continuou sorrindo feliz em todos os seus dias abençoados, namorando outros rapazes e deixando as tristes lembranças no peito do amado.
 O desgosto enfim cobriu o homem romântico. Sua ultima vontade, o tumulo pintado de intenso azul, em meio aos outros desfocados. Nele brotou uma flor também azul.
Á quem diga que esta flor era o coração dele, que subiu no muro alto rasgando as vestes, na esperança de um dia, receber a visita do grande amor de sua vida...

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