quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O que importa é o amor

  Um dos mais estranhos animais sobre a face da terra,  acredito que seja o ser humano, se difere dos animais irracionais por ser um animal pensante e inteligente, mas muitas vezes perdemos a credibilidade por fazermos coisas que se tornam inexplicáveis. Nós humanos somos muito complexos, muitas coisas que fazemos foge ao nosso próprio entendimento. Digo isso queridos leitores porque certa vez ouvi uma história sobre um ser humano muito estranho, não que eu achasse certo a princípio as suas loucuras, achava um tanto que engraçado,  depois pensando bem, foi por uma boa causa. Vou contar como tudo começou.
      Certa vez numa pequena cidade do interior, vivia uma pequena população, na qual Juca fazia parte, um homem cinquentão que vivia sossegado em sua casa na chácara que tinha herdado do pai, ficara solteirão e nem pensava em arrumar rabo de saia, porque segundo ele  seria dor de cabeça na certa. Era uma das pessoas simples que viviam  naquele lugar e que tinham o seu modo de vida pautado na  moral e nos bons costumes, ali o progresso ainda  não havia chegado. As moças eram recatadas e os rapazes eram respeitadores, porém não possuíam muito jeito para o galanteio, por viverem de um modo mais rústico.
Pois bem, certo dia estava Juca sentado em sua varanda, quando chegou Josias. Este sujeito preciso descrevê-lo com cautela, pois não é dono de grande beleza, ele não teve muita ajuda da genética, e pelo jeito errou a fila para ganhar a beleza. Desculpem-me a franqueza, verdade seja dita, e já resumindo, ele parecida o cão chupando manga. Muito jovem ainda, nos seus vinte e cinco anos,  era dono de uma grande beleza interior, muito prestativo, como no ditado popular... “Era pau para toda obra”, podia-se contar com ele para tudo.  Juca e Josias eram muito chegados, amigos de longa data, apesar da diferença de idade, eram como irmãos, pois ambos viviam solitários,  e conversavam muito sobre a vida. Josias costumava sair à noite ou domingo a tarde para paquerar as moças na cidade, porém normalmente não  obtinha  êxito em suas conquistas, devidos seus dotes físicos que não eram lá grande coisa.
      Josias vivia triste,  pensava muito em formar uma família, mas nenhuma moça se interessava por ele, não conseguiam enxergá-lo além de sua aparência física.
      Preciso fazer um aparte para dizer-lhes o quanto é abominável  a ideia de que  pessoas possam não conseguir ver além das aparências, muitas não se importam com o interior  humano. O grande valor dos seres humanos  está na sua capacidade de amar... Como diz aquele antigo ditado popular, de que adianta... “Por fora bela viola, por dentro, pão bolorento”?
Mas infelizmente, ainda hoje julgar pela aparência é predominante, e...
      Elas viviam  fugindo dele, como naquele ditado, ” Como o diabo foge da cruz” e a comentar entre elas:
      -Mariana você acredita que o Josias me convidou para ir a festa de sábado?
      -Verdade Lucinha? Cruz credo, e você aceitou?
      -Claro que não, ele é bonzinho, mas é tão feinho.
      No outro dia, outros comentários:
      -Verinha, adivinha... O feioso me convidou para passear, recusei na hora!
      -Fez bem Tiana,  eu também não quis.
      O tempo ia passando e Josias continuava sozinho sem companheira.                            Certo dia conversando com seu amigo da chácara, o Juca, contou-lhe a ideia que teve:
      -Juca,  preciso  lhe contar uma ideia, vou arrumar um jeito de me casar.
      - Casar? Josias, mas casar, nem namorada você consegue, como pode querer se casar?
      -Pois é,  mas eu arrumei um jeito de conseguir sair com as meninas,  e fazer com que elas se apaixonem por mim.
      -Ah é? Como?
      -Vou atacar de Dom Juan mascarado!
      -Como?
      É isso mesmo, vou arrumar uma roupa chique, uma máscara e vou causar um grande impacto nelas, quem sabe se uma delas se apaixona por mim.
      -Quero ver mesmo se isso vai dar certo, tome cuidado para isso não acabar mal, de qualquer forma você sabe que pode contar comigo, afinal somos amigos.
      E Josias fez como disse, arrumou uma roupa chique e uma máscara combinando com a roupa.
      Mandou um menino entregar uma rosa com um bilhete marcando encontro com Lucinha, aquela primeira que o havia desprezado.A moça achou de um romantismo imenso e aceitou logo de cara, nem pensou duas vezes.
      A noite se encontraram no lugar marcado, num velho paiol abandonado,  porém bem conservado pelo tempo, lugar especial de onde podia se ver perfeitamente a lua e as estrelas, lugar ideal para uma romance.
      Lucinha  ficou apaixonada pelo mascarado, se envolveu em seus braços e ficou fascinada pelos  beijos e carícias, aquele momento mágico fez com que ela nem quisesse conhecer o verdadeiro homem por baixo daquela máscara, e foi logo querendo marcar outro encontro.
Josias chegou todo contente contando para o amigo que ficou feliz por ele, porém preocupado dizia:
      -Cuidado veja lá o que está fazendo.
      -Claro... O importante é que está dando certo.
      No dia seguinte, nova rosa com novo bilhete, marcou outro encontro, o menino foi correndo e todo contente entregar, desta vez para a Verinha, que também o havia dispensado.
      De novo Josias deu sorte, a noite estava convidativa para uma noite inesquecível, se encontraram no paiol e a moça ficou toda derretida com aquele homem inebriante, charmoso, carinhoso, queria de novo encontrá-lo e viver novamente momentos como aquele.
      O rapaz não cabia em sí de satisfação, pois para quem só conseguia espantar as mulheres, agora estava se saindo muito bem... Como diz aquele outro ditado popular... “Estava chovendo em sua horta”.
      Mas,  ao mesmo tempo que  sentia alegre, vinha logo a tristeza, pois sabia que a façanha não passava de uma grande mentira. Por um momento ficou preocupado, mas em seguida pensou que os seus problemas poderiam se resolver com aquela fantasiosa estratégia.
Tratou então de dar seguimento ao plano e chamou logo o mensageiro, que veio pulando de alegria, já que aquela brincadeira estava lhe rendendo um bom dinheirinho.
      Nova entrega de uma rosa com um lindo bilhete foi feito agora para Tiana, que ficou ansiosa para conhecer aquele homem galanteador.
      A noite caiu e lá se foram os dois se encontrarem no lugar escolhido. Tiana se sentiu nas nuvens quando aquele homem maravilhoso colocou seus braços em torno de sua cintura e cochichou palavras lindas ao seu ouvido, naquele momento pensou que jamais havia conhecido um homem tão romântico, ficou tão embevecida, que nem pensou em saber quem era aquele que estava por detrás daquela máscara.
      Josias estava maravilhado, e quis dividir com o amigo as novidades. Juca ouviu tudo com paciência e quis alertar o amigo.
      -Olhe bem o que está fazendo,  você está enganando as três, acha isso certo?
      -Claro que não... Mas foi o jeito que encontrei de fazer com que olhassem pra mim.
      - Mas de que adiantou? Quando descobrirem a verdade, duvido que alguma delas queira ficar com você.
Preocupado, Josias ficou pensando numa solução para resolver aquela situação, pois ele se viu diante de um problema no qual no fundo não era de seu feitio, sempre fora um bom homem, mas apesar de tudo esperava que pelo menos uma delas se apaixonasse por ele e mesmo descobrindo que era ele o mascarado, quisesse namorar, noivar e casar com ele. No fundo ele queria apenas ser feliz.
      Cidade pequena é um problema, todo mundo se reúne na praça depois da missa de domingo. E foi o que fizeram as amigas Lucinha, Verinha e Tiana, para colocar o papo em dia.
      -Verinha, nem te conto, conheci um homem maravilhoso...
      -É mesmo Lucinha? Espere até lhe contar que eu também conheci o homem da minha vida...
      -Tiana foi logo cortando a conversa e tagarelando... Antes deixa-me dizer eu... Ahhh ... Acho que encontrei meu príncipe encantado!
Um ar de mistério pairou no ar... Logo em seguida fez-se um silêncio. Como poderia todas conseguir encontrar  em tão pouco tempo, um homem com características tão parecidas e maravilhosas, numa cidade onde não era comum  homens dotados de tanto garbo assim.
      Foi então que começaram a descrever o garboso... E ficaram estupefatas ao descobrir que poderia ser o mesmo homem. Foi então que resolveram se juntar para dar uma lição naquele aproveitador. Porém creio que o principal motivo, via-se nos olhos que brilhavam ao falar do mascarado,  era poder rever aquele poço de formosura e saber qual delas  ele escolheria para ser sua exclusividade. Ficaram então, a espera do menino com o bilhete, combinaram que a primeira que recebesse, avisaria as outras.
      Josias com um aperto no coração, queria contar a verdade para as moças e acabar logo com aquela mentira, mesmo sabendo que a sua estratégia poderia não ter êxito e ele até poderia ir preso.
      Foi então que resolveu juntar as três no paiol para despir-se da máscara e finalmente saber qual delas poderia ter alimentado algum interesse por ele. Mandou então um bilhete e uma rosa para cada uma delas. O menino mensageiro ficou maravilhado e exigiu pagamento triplicado. Nada mais justo, pensou Josias e pagou satisfeito.
Bilhetes entregues, e as moças ficaram intrigadas,  pois uma contou para a outra do bilhete recebido e ficaram surpresas por ele ter marcado com todas ao mesmo tempo, mesmo assim resolveram ir aquele encontro.
      Quando as moças chegaram ao local, se depararam com uma figura esbanjando charme, uma figura máscula sentado em uma cadeira perto da janela, tinha o rosto coberto por  uma máscara escura, cuja luz do luar iluminava, e dava um tom especial, deixando-a um tanto dourada.
Lucinha, Verinha e Tiana ficaram perplexas com aquela visão de cinema... Mais parecida um Dom Juan, como nos filmes... Ficaram trêmulas quando ouviram sair de sua boca um lindo poetar..
      Bonitos são os olhos
      Que enxergam
      Além das aparências!
      Aqueles versos ditos pelo mascarado causou estranheza às moças, que ficaram a pensar... Que significado teriam aqueles versos?
Após dizer aqueles versos... Não hesitou e tirou a máscara. Grande foi a surpresa e a decepção quando as moças viram que aquele homem pelo qual suspiraram tanto, era o Josias... “O feioso”.
      Josias ficou ali parado com a máscara na mão, esperando por uma atitude de pelo menos uma delas.
      Com a voz embargada, pediu para que elas o desculpasse.
      Mas o que ouviu foram só lamentações.
      - Como pode fazer isso conosco?
      -O que  achou? Que íamos cair de amores por você?
      -Vamos fazer queixa, isso não vai ficar assim.
      Lucinha e Verinha estavam possessas, queriam vingança... Quando perceberam que Tiana continuava petrificada a olhar para Josias.
      -Tiana?...Que faz aí parada? Diga alguma coisa... Vamos embora!
      -Precisamos denunciar este Dom Juan de araque!
      Mas os chamados das amigas foram  em vão. Tiana o perdoou,  e  conseguiu ver além daquela pobre aparência, um rico sentimento, conseguiu penetrar no coração de Josias e percebeu que por detrás daquela máscara, havia um homem sensível e bom, cujo sentimento permaneceria pra sempre, que seria o companheiro ideal,  e  entendeu que ele havia feito aquilo, porque queria ser visto com o olhar do coração.
Josias segurou as mãos de Tiana, como se estivesse segurando  um troféu e disse:
      -Você quer ser a minha namorada, noiva, esposa e mãe de meus filhos?
      -Tiana não teve dúvidas e respondeu...
      -Sim, quero viver com você uma linda história de amor.
      Lucinha e Verinha, as inhas... Pequenininhas, com sentimentos também inhos, foram embora,  resolveram não denunciar o rapaz, pois perceberam que ficariam com a reputação manchada na cidadela.
Josias e Tiana resolveram se casar, convidaram Juca para padrinho, que ficou contente por tudo ter terminado bem.
      Foi uma cerimônia muito bonita na pequena capela da cidade, as amigas de Tiana acompanharam o casamento com uma certa dor de cotovelo, pois sabiam que seria difícil encontrar um homem tão gentil e bom como aquele, viram a alegria estampada no rosto de Tiana, que com certeza seria muito feliz com o charmoso Dom Juan.
      Diante de um desfecho tão lindo como este, podemos então concluir que o que importa mesmo,  é o amor!

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