sábado, 21 de dezembro de 2013

Amor e chuva


 Recolhi todas as magoas. Acendi incensos pela casa pequena e me sentei no sofá confortável. Escolhi uma boa garrafa de vinho tinto, enchi minha taça rasa e abri a pequena caixa de antigas lembranças.
 Em sua maioria, cartas de amor com frases poéticas e declarações delicadas... Meninas e mulheres que não mais vi... Pessoas que se casaram com outras pessoas e cuidaram de suas vidas longe de mim, longe de meu mundo vazio.
 Que ridículo desperdiçar um bom vinho com lembranças tolas de dias que não voltam mais! Eu estou lendo tudo que elas me escreveram, mas elas certamente não se lembram do que fizeram, talvez nem se lembrem mais de mim, e se por ventura guardarem alguma lembrança, riem como se não houvesse mais significado algum! Palavras vêm e vão como o vento frio que sopra lá fora...
 Mas na verdade, eu há abri como desculpa para tentar me lembrar de como era ser amado de verdade. Não funcionou. Me senti fraco e muito mal... A solidão é um vermezinho maldoso, que nos corrói por dentro, nos fazendo lacrimejar todas nossas nostalgias!
 Tolice a minha querer ser amado, alias, tolice o homem cobiçar o amor alheio. Tudo é tão menos complicado sem o amor...
 Eu queria amar minhas coisinhas banais, queria ser egoísta e me dedicar ao meu mundinho miúdo...  Mas é tão tediosa a vida de quem não tem um amor...
 A ultima vez que amei de verdade, foi em um doce dia de chuva. Foi o dia em que a conheci... O temporal invadiu o centro da cidade e a moça lá, bela e desprotegida, com os frios pingos lhe atingindo. Corri ao seu desajeitado encontro e ofereci carona em meu guarda chuva, fomos a uma marquise improvisada, então vi seus olhos... Me vi neles e a quis para sempre... Ela possivelmente se encantou, e em um minuto magico, eu a beijei!

 Os dias correram e eu tentei a todo custo conquista-la, ela me disse que não daria certo. Não deu. A amei intensamente, mas me perdi em mim. Éramos tão diferentes em ser e querer... Nossos ideais embora evolutivos eram direcionados ao oposto, entre a religião e a insanidade.
 Pensamos que juntos, atropelaríamos a barreira da consciência e construiríamos um lugar seguro, tão forte quanto aquele guarda chuva, juntos nos esconderíamos nesta fortaleza de nossas adversidades comuns.
 Ilusão. A fortaleza se mostrou fraca e insegura. Acabou meu sonho de menino.
 E agora eu aqui, vento frio em noite de outono, vinho e lembranças tolas de dias comuns...
 Não espero que ela volte, acho que já a coloquei dentro da caixa pequena, junto com as outras coisas que nada significam para mim. Eu ainda tenho o vinho e meus novos ideais, que embora sejam fracos, me alimentam e me tornam o homem que sou. O mesmo homem que não aceitou se moldar. A chuva às vezes vem e me molha, vejo a frente um novo amor... Mas desta vez estou certo que será perfeito, pois tenho o dom sublime de começar tudo de novo...



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