segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Bicho papão

Fernando deveria estar dormindo, afinal esta era a ordem de sua mãe. Mas em vez disso, o garoto de dez anos resolveu ficar acordado e assistir à um filme o qual ele havia visto a propaganda poucos dias atrás. "O Bicho Papão" iria passar as onze horas daquela noite.

Quando o relógio enfim marcou as onze, Fernando correu para debaixo de suas cobertas, ligou a TV e começou a assistir o filme. Adrenalina tomava conta de seu corpo.

No início tudo foi muito bem, mas depois de meia hora assistindo o garoto já estava morrendo de medo.

O Bicho-Papão era uma produção barata, e o que não conseguia fazer no quesito de efeitos especiais com o monstro, recompensava os fãs de terror pelo seu suspense e pelas horríveis mortes das crianças. Um verdadeiro Gore, muito sangue, mutilação.

Fernando nunca havia visto tantas mortes violentas como aquelas do filme. Na maioria delas o Bichão Papão saia de baixo da cama e devorava as criancinhas, rasgando seus membros e depois devorando-os sem dó.

O menino já apavorado demais, decidiu que o melhor era desligar a TV.

Mas ele não precisou fazer isso, pois quando se aprontava para pegar o controle remoto, o televisor desligou sozinho.

Escuridão e silêncio predominaram no quarto.

Suor frio escorria da testa de Fernando e uma sensação de solidão misturada com a dificuldade de respirar, fizeram com que o garoto paralisasse.

De repente, um barulho veio de baixo da cama. Foi nesse momento que Fernando urinou nas calças. Começou a chorar e quando estava prestes a dar um grito, duas garras agarraram seu pescoço.

A criatura era forte e sufocava Fernando com raiva. Fernando sentiu seu pescoço sendo perfurado, sua garganta sendo estourada. Uma dor inexplicável.

O grito silencioso não teve efeito. Seu corpo desabou e o choque contra a cama foi monstruoso.

Quando abriu os olhos, a TV ainda estava ligada.

Tudo não passara de um pesadelo.

Fernando acabou dormindo em determinada parte do filme e depois sonhou com o que estava assistindo. Consequências normais para uma criança que não está acostumada a ver filmes de horror.

Após despertar, olhou para a TV e viu que O Bicho-Papão ainda passava. Arrumou seus cobertores e desligou o aparelho. Não queria ver mais nenhum minuto daquele filme nojento.

Para não ficar totalmente no escuro Fernando acendeu seu abajur, que ficava ao lado de sua cama.

Respirou fundo e fechou os olhos.

Tentou dormir, mas o medo não havia ido embora. Não era tão fácil assim esquecer do monstro do filme. Então o pior aconteceu.

O barulho em baixo da cama, aquele que ele havia ouvido no sonho, agora era real. Imaginem como o pequeno Fernando ficou.

Seu corpo congelou e ele não tinha forças para gritar.

A luz do abajur se apagou e o garotinho continuou a ouvir o barulho embaixo da cama, como se algo estive se arrastando ali em baixo, se preparando para sair, cada vez mais perto.

Fernando sentiu a presença de mais alguém no quarto. Passou a ouviu uma respiração, era ofegante e lenta.

Lágrimas escorriam do rosto do menino. Na tentativa de acabar com todo aquele inferno ele começou a rezar. Era isso que sua mãe havia lhe ensinado, que para espantar o medo e os monstros bastava rezar. Mas ele nunca havia rezado para espantar monstros, nunca tinha sentido a presença de um em seu quarto.

Mesmo assim rezou, rezou torcendo para que aquelas palavras tivessem efeitos no Bicho Papão.

— Santo anjo do Senhor...

A respiração cada vez mais próxima.

— ...meu zeloso guardador...

Fernando fechou os olhos e rezou com mais fé.

— ...Se a ti me confiou a piedade divina...

Agora o garoto escutava pesados passos.

— Sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine....

O monstro parecia estar bem ao seu lado.

Fernando sentiu uma mão em seu ombro esquerdo e seu amém se transformou em um longo grito de pavor.

— AMÉEEEEEEEEEEEEEM!

A calça ficou molhada, dessa vez de verdade. Desespero total.



— Calma, calma meu filho. É o papai, por que você está chorando?

Fernando olhou para o pai, ainda com medo de que tudo fosse outra peça do Bicho-Papão.

— Vem aqui comigo, aposto que você viu algum desses filmes idiotas. Vamos, vem dormir comigo e sua mãe. — Disse Ricardo, pai de Fernando, enquanto pegava o filho no colo.

Ao sair do quarto, no colo de seu pai, Fernando olhou para baixo de sua cama e viu dois olhos amarelos o encarando.

Morrendo de medo ele colocou a cabeça no ombro de Ricardo e começou a chorar, outra vez.

O menininho sabia que naquela noite ele estaria seguro, mas e na próxima, como faria?

Pensou rápido, e decidiu que o melhor era falar para o seu pai.

Em meio a soluços comentou:

— O monstro tá embaixo da cama pai.

Ricardo para tirar o medo do filho, voltou até o quarto, acendeu a luz e falou enquanto apontava para o lugar vazio.

— Olhe lá Fernando, não há nada.

O garoto espiou novamente, afastando a cabeça do ombro de seu pai.


Debaixo de sua cama, viu um monstro horrível. A criatura lhe encarava, sorrindo

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